quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Bohemian Rhapsody, o filme do Queen


Então, eu vi o filme.
 Se eu disser que eu saí maravilhada do cinema eu estaria mentindo. Quando eu estava lá dentro da sala eu já via tantos problemas que quando eu refleti sobre ele em casa eu tive noção da catástrofe. Eu sigo uma conta do instagram de uma menina muito fã de queen que ela disse "definitivamente não é um filme para fãs do queen", e lendo isso eu pensei, será que eu sou o tipo de fã que ela se refere? E eu sou.
 Eu sou o tipo de fã que lê livros, que pesquisa. Que sabe da história, que sabe que uma história mixuruca está sendo contada.
 O Rami Malek fez um péssimo Freddie Mercury, muito caricato, expressões bizarras. Mas o fracasso que foi o Freddie nesse filme não está somente relacionado a atuação do Rami, e sim ao roteiro. Eu não sei que merda eles tinham na cabeça escrevendo o roteiro do filme, de verdade. SEMPRE ficou muito claro que o Freddie era tímido. Ele era uma rainha nos palcos, promíscuo nas camas e podia até ser chamado de drogado, mas era tímido, e isso não foi demonstrado de forma clara no filme. Uma coisa que eu gostei foi que mostraram ele se envolvendo com as pessoas erradas, mostraram Paul Prenter, a víbora que destruiu a vida dele.
 Sobre o Brian May, não tem muito o que dizer além de lindo maravilhoso perfeito etc etc.     
 Sobre o Roger Taylor, não sei se foi o ator, sei lá, eu gostei, mas podia ser melhor. A realidade é que a caracterização dele ficou muito estranha. Enquanto retrataram as trocentas mudanças de visual do Freddie, o crescimento do cabelo do Brian e os vinte milhões de cabelos do John Deacon, o Roger ficou com a mesma aparência o filme todo, sendo que ele não ficou com a mesma aparência durante vinte anos.
 Sobre o John Deacon, gostei muito do ator que fez ele, principalmente por conta da aparência física idêntica. Gostei da forma que eles o retrataram, como uma pessoa fora da banda. Alguém que não ligava se o Freddie estava cheirado de cocaína, contando que cantasse. Que falava tão pouco que o Freddie não conseguia imaginar uma profissão pra ele sem ser baixista do Queen. Lindo.
 Mas os problemas maiores foram os furos. Não, o Freddie não veio para o Brasil na época do A Night At Opera. O Rock In Rio aconteceu em 1985, não em 1975, ele não estava questionando a sua sexualidade, ele estava tão certo disso que trouxe dois amantes dele para cá. Não foi um moreninho brasileiro que fez ele descobrir isso. Não, o Freddie não tinha cabelo curto e bigode na época de We Will Rock You! Essa música é do News of The World, o mesmo álbum do We Are The Champions, ele ainda usava o cabelo longo. O Freddie descobriu a AIDS em 1987, não em 1985! Não, ele nunca se assumiu para a mãe! Meu anjo, a Jer já disse "Ele nunca sentou para mim e disse, eu sabia pelos tabloides”, aquela cena com o Jim foi linda, mas totalmente fantasiosa.
 E eu amo queen. Não sei. Quando o Brian fala “Queen significa família” é isso mesmo. Não a minha família. Não o conceito de família. Queen me acompanhou por tantas, se não dizer todas, épocas da minha vida que eu considero elas tão parte de mim que eu me considero em total direito e razão de dizer que o filme não foi bom. E eu não entendo o Brian e o Roger terem compactuado com isso, de serem parte de uma coisa errada de tantas formas, e eu sei que só eles sabem o que eles passaram, que só eles viram a bagunça que o Freddie tinha se tornado, mas não é possível eles se contradizerem tanto assim. Poxa, esse filme tinha potencial, mas é complicado. Falar de Freddie Mercury não é como falar de Harvey Milk, que só teve nove anos de carreira política e conseguiram condensar tudo num filme lindo (assistam Milk do Gus Van Sant filme lindo demais só não se apaixonem pelo James Franco ele assedia mulher) e que deu certo. Falar de Freddie Mercury é falar de quase 30 anos de carreira. É de falar de Tanzânia, de Zanzibar. É de falar de Farrokh Bulsara. Falar de timidez e de sexo, de cocaína. De Mary Austin, de Paul Prenter, de Barbara Valentin, de Jim Hutton. De Aids, de Montserrat Caballet, de Ópera. De Brian May, de Roger Taylor, de John Deacon. Falar de Freddie Mercury é falar de extravagância. De se nomear Mercury por uma música que ele mesmo escreveu. “Mother Mercury, look what they’ve done to me, I cannot run I cannot hide.” De escrever sobre um quadro de fadas serial killers. Freddie Mercury era um ser tão diferente e extraordinário que seria difícil e até vulgar fazer um filme sobre ele. Além de vulgar, ofensivo com os outros.
  E JIM HUTTON! A abordagem do Jim Hutton é esquisita, ofensiva. No filme, o Freddie aperta a bunda dele (ele sendo o seu garçom) e ele fica mega ofendido e ele pede desculpa e começam a conversar. E tudo isso é estranho, porque o Jim nunca foi o garçom dele, Jim era um cara qualquer em um bar e com toda certeza não dava a mínima pra quem o Freddie era ou deixava de ser. O relacionamento deles não começou com um assédio. Qual é a necessidade disso? Isso foi estranho demais, além de terem mudado o fato, meio que denegriram uma parte da imagem dele.

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